E se a minha vida terminasse hoje? E se tudo terminasse hoje, neste momento em que estamos prestes a encerrar o ciclo de 2023, em que nos preparamos para as festas das luzes e da partilha? E se a minha vida terminasse hoje, ou amanhã, ou em 31/12/2023?
Não seria a única, nem a primeira, nem a última; seria uma entre centenas, talvez até entre milhares. Não haveria alarido, nem notícias nas manchetes, nas redes sociais, ou na mídia, assim como não são notícias ou, pelo menos, não são destaques os nascimentos e as mortes de tantas vidas todos os dias.
Talvez até fosse encarada com indiferença, assim como já se tornou triste cotidiano observar as inúmeras vidas que as guerras ceifam e os nascimentos que sucedem entre escombros. Se a minha vida terminasse no final deste ano, sucederia como aconteceu com meu pai em 2015, no último dia de 2015.
A sua partida impactou-me a mim, a família, os seus amigos, e, pronto; foi mais uma vida que foi vivida e terminou.
Mas, na verdade, a sua vida e as milhares de vidas que tocam este planeta - as que encarnam, cumprem o seu ciclo e desencarnam todos os dias -, cada uma dessas vidas é imprescindível, infinitamente preciosa, amada, valorizada, e deixa um legado único, insubstituível na ordem e no propósito maior.
Cada ser tem marcas que deixou em outras vidas. Cada ser fez escolhas, conscientes ou não, que tiveram impacto direto e irreversível, quer sobre os seus semelhantes mais próximos, quer sobre todo um universo e sobre as criaturas vivas com que a sua vida esteve interligada.
Cada ser foi e é filho(a), amigo(a), namorado(a), esposo(a), pai ou mãe, avó ou avô... Cada ser teve algum significado único para várias pessoas, seja pela sua pertença à família ou à profissão, ou por outras funções que exerceu na sua sociedade.
Cada ser amou e foi amado, deu e recebeu, acolheu e foi acolhido, rejeitou e foi rejeitado, perdoou e foi perdoado, não perdoou e não foi perdoado, participou ativamente nas suas próprias histórias e nas dos seres com cujas vidas o seu enredo se desenvolveu.
Se a minha vida terminasse em 2023 e, uma vez que tive a graça de fazer todo o caminho e todos os aprendizados que fiz até este momento, eu escolheria abençoar todas as vidas, quer as que participaram do meu enredo, quer as que não participaram diretamente dele.
Se a minha vida findar o seu ciclo neste ano, eu escolho perdoar-me e perdoar todos os que transgrediram de algum modo contra mim, pois reconheço que eles o fizeram pelas mesmas razões pelas quais eu cometi transgressões contra outros.
Fizeram-no, assim como eu, por medo, por naquele momento não saberem fazer melhor, por ansiedade, por receio de rejeição, por mágoas retidas e por feridas mal compreendidas e não curadas.
Escolho exercer compaixão, da mesma forma que exerço compaixão comigo; pois, embora não concorde com as nossas transgressões, aceito que, naquele momento e naquele estado de evolução em que nos encontrávamos, era o que achávamos por bem fazer e, por isso, escolho e escolheria abençoar e perdoar.
Escolho soltar e deixar ir, libertar e, no que me diz respeito, fazer escolhas conscientes na passagem da vida; pois, ainda que termine o ciclo da passagem sobre a terra, a vida convidará a outros ciclos.
Se tudo terminasse agora ou neste ano, eu não iria atravessar a morte sem preocupações, pois há coisas que preocupam e angustiam a minha alma imensamente.
Dentre elas, as guerras incessantes e a escassez que elas provocam e fustigam; a cultura da indiferença na humanidade; a soberba e a falta de amor com que tratamos o nosso meio ambiente; a fome, ou melhor, as fomes que assaltam o mundo porque os corações estão áridos de amor...
Essas e tantas coisas preocupam-me, entristecem-me, ativam dores de profundas feridas em mim, promovem uma constante inquietude no meu espírito - a inquietude que me sussurra constantemente que é preciso dar mais, fazer mais, contribuir mais, amar mais, evoluir mais, morrer e renascer mais.
Contudo, reconheço que essa inquietude é também uma bênção, pois se a sinto é porque ela me motiva a ser o que desejo ver e a abrir os olhos para enxergar que, para todas as preocupações que referi, existem não só soluções, mas também vidas a derramar esses valores no mundo.
Já há, de fato, almas amorosas a nutrir, a agasalhar, a perdoar, a amar, a acolher, a semear abundância, a partilhar, a prosperar no amor.
Resumindo: se terminasse a minha passagem pela terra neste ano, eu escolheria já hoje deixar o legado de tudo que anseio ser. Escolho fazer com que cada uma das minhas palavras e ações, por mínimas que sejam, possam ser abundância, compaixão, caridade, perdão, paz, amor e sabedoria.
Escolho abraçar e soltar as sombras e escolho ser empata porque isso me dá a capacidade de entender que somos todos feitos da mesma matéria. Escolho acolher e ser acolhida pela luz que todos os dias deseja entrar nas nossas vidas. E escolho abençoar todos e desejar-lhes que façam um caminho de luz.
Amigo e amiga, eu amo-te, honro-te, abençoo-te, perdoo-te, respeito-te e agradeço-te todos os presentes e futuros aprendizados que me permites e me permitirás fazer contigo.
Desejo-te que, nestas festas de 2023, a luz se faça presente na tua vida e na dos teus e que possas escolhê-la e acolhê-la, abraçá-la e aceitá-la, transcendendo através dela as tuas sombras, transformando-as em novos focos de luz.
Desejo-te que faças escolhas evolutivas e que honres o processo que te trouxe até aqui, que te permitas libertar e renascer no Natal, prosperando no ano novo.
Vemo-nos por aí e quero que saibas que no meu coração encontrarás sempre um portal de amor para te abençoar e acolher.
Feliz Natal!
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