sábado, 16 de dezembro de 2023

Carta ao pai natal da minha criança interior

Querido pai Natal,

Não sei, na verdade, como te chamar... Não sei exatamente se moras no Polo-Norte; mas, cá pra mim, não acredito, embora passes por lá... Acho que tu és um pai invisível que anda por todo lado e tens muitas moradas, tantas que as pessoas não podem sequer contar.

Para além das moradas invisíveis que tens lá em cima, no mundo espiritual, no cosmos, também moras nos corações de muitos, nos de todos que quiserem construir moradas onde possas viver, casinhas simples ou castelos, também eles invisíveis, mas perceptíveis... Moradas cheias de amor.

Escrevo-te uma carta especial hoje, uma carta que decidi partilhar com muitas pessoas, com todas as que quiserem ler, porque acho que elas por vezes já nem sabem que, sendo ou não adultas, podem continuar a conversar contigo e a contar-te sobre os desejos que têm guardados nos seus corações.

Então, eu mostro-lhes a minha cartinha para ti e, talvez, elas deixem a sua criança interior conversar com elas mesmas e contigo. A criança interior que é a alma delas no seu estado original e que elas já não deixam falar porque acham que ela as desconcerta... enfim, coisas de gente grande, pai...

Antes de mais, paizinho, quero agradecer-te, porque se cumpriram alguns desejos muito importantes que te escrevi no ano passado.

Ainda tenho comigo a minha querida mãezinha e, entre altos e baixos e verdadeiras montanhas ruças, estamos juntas e ainda mantemos viva a esperança de uma cura profunda, daquelas curas que não são só do corpo, mas de todas as dimensões.

Recebi outros presentinhos: clareza quando precisava dela; ideias para o meu trabalho; amor e carinho para dar e receber de pessoas muito especiais; e muitos mestres, mentores e outros seres que me ensinaram e me ajudaram a partilhar conhecimentos muito importantes para uma alma cada vez mais saudável.

Agradeço-te também por não me ter faltado nada que é importante a nível material e agradeço-te pela natureza maravilhosa, que também é uma mestra com ensinamentos inesgotáveis, e que, além disso, nos delicia os sentidos todinhos e nos dá tanta alegria.

Agradeço pela comida de cada dia, pelos frutos da terra, pelo lar e pela paz, pela saúde, pelos dons e pelos desafios que me permitiram usar os dons e descobrir capacidades que desconhecia, quer em mim,, quer nos outros!

Obrigada também pelos animais; não só pelos meus domésticos, mas também por todos os outros que desempenham trabalhos importantíssimos para o bem-estar de toda a natureza, daquilo que os cientistas chamam de “ecossistemas”...

Dizem que, para se pedir desejos nas cartinhas para ti, temos de nos portar bem. Bom... tu sabes já se eu me portei bem ou não; afinal, tu vês tudo e tens muitas criaturas mágicas ao teu serviço que te ajudam a desempenhar muitos outros trabalhos...

Sabes, portanto, que fiz o meu melhor e continuo a fazê-lo sempre para que hoje seja melhor do que fui ontem, e amanhã possa ser melhor do que fui hoje. Sabes, portanto, que um dos meus grandes desejos é precisamente esse: aprender a ser a cada dia um pouco melhor pessoa... Aprender a fazer e a ter; mas, mais importante, aprender a ser.

Não quero portar-me bem porque tenho medo do que aconteça se me portar mal, mas porque me faz feliz portar-me bem; porque, sempre que faço ou sou algo de bom, posso fazer com que alguém se sinta melhor.

E eu acho que, se todos compreendessem que ser um bom ser dá grande felicidade, não teriam medo do que acontece quando alguém não se porta bem, nem sequer estariam preocupados com isso; e, muito menos, tentariam competir e fazer as coisas só para que outros lhes dissessem que se portaram bem ou para que lhes dessem prémios.

O fato de se ser uma pessoa cada vez melhor faz-nos tão felizes que não precisamos de outros prémios; esse já é o melhor de todos. Se todos entendessem assim, acho que o mundo estaria em paz.

E, com isto, paizinho, entrei já nos meus desejos. Nesta cartinha não te vou pedir bens materiais.

Não porque não goste deles ou deles não precise, mas sim porque acho que, se estes desejos aqui se realizarem, os outros serão satisfeitos por acréscimo e eu poderei realizar estes e muitos mais; não só meus, mas também de outras pessoas.

O que te peço hoje é que faças magia no coração das pessoas, especialmente daquelas que se esqueceram que tu existes. Elas estão feridas e as feridas delas não se veem; por isso, os médicos não conseguem curá-las com medicamentos.

Só a tua magia de amor pode ajudá-las, porque elas esqueceram que tu podes tudo. Com a tua ajuda, com ajuda dos teus meios mágicos, elas podem compreender que as feridas que elas têm podem ser curadas e não apenas anestesiadas, e que a raiva, a guerra, a zanga, o ódio ou as drogas que ajudam a esquecer não vão fazer acontecer essa cura. 

Se fizeres acontecer magia no coração delas, elas poderão chorar no teu colo e, com o choro, serão lavadas a dor, a raiva e aquelas memórias feias que fizeram as feridas...

As coisas que alguém lhes fez, as pessoas ou coisas que elas perderam... os sonhos e os lares que as bombas lhes destruíram... as mortes pequenas e grandes que tiveram de atravessar.   

Se tocares os corações de todos os seres humanos com a tua magia especial, eles entenderão que as feridas todas podem ser curadas e que eles podem aprender a dar-se e a dar a todos o que lhes está a faltar, e terão nova vontade de viver e de fazer diferente, terão vontade de amar e de desistir da guerra para fazer paz.

Terão vontade de ajudar-se e de fazer diálogo, em que todos dizem o que sentem sem se magoar; terão anseios de perdoar e de ser perdoados; sentirão que não faz qualquer sentido deixar de fazer a todos os outros aquilo que gostam que os outros lhe façam; e sentirão que, na verdade, não existem quaisquer fronteiras.

Só com a tua força, com a alquimia transformadora que lhes porás no coração e na mente, usarão a sua inteligência para só fazer coisas belas, bonitas e inspiradoras; para investir em soluções ao invés de em problemas; e para fabricar máquinas pró-vida ao invés de armas para a morte, pró-saúde em vez de pró-doença.

Descobrirão que os outros - aqueles que os magoaram, aqueles de que têm medo -, aqueles que consideram muito diferentes, não são nada diferentes e que o mal que eles fizeram foi porque tinham problemas iguais aos próprios e também não os curaram.

Então, acontecerá a alquimia e a magia da compaixão, do entendimento que mostra que somos muito parecidos quando fazemos coisas boas e menos boas, quando ferimos e quando presenteamos, quando amamos e quando rejeitamos.

Para este natal, desejo que todos os seres mágicos se empenhem em trabalhar todos os nossos corações de tal forma que ninguém sinta vontade de ficar de fora da verdadeira magia do natal, daquela que dura 365 dias por ano.

Daquela que não faz problemas desaparecerem, mas nos ensina a resolvê-los e nos dá espírito criativo, mãos laboriosas, almas corajosas e corações que se tornam tão grandes que desejam alojar todas as criaturas.

Com amor,

Cris Carvalho. 

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