sábado, 2 de setembro de 2023

Como conseguir maturidade emocional?

Na publicação de hoje, abordamos uma pergunta que me foi feita algumas vezes e que considero ser de elevadíssima importância para todos nós, pois a maturidade emocional é um dos pilares básicos para que consigamos ter paz interior e, por sua vez, a paz interior é a premissa para que possa existir paz no mundo.

Maturidade emocional é quando temos a postura e as ferramentas necessárias para lidar com as emoções, e muito se fala já em inteligência emocional.

Mais do que trazer-vos as definições propostas por estudiosos, expresso aqui a definição que encaixou comigo e me ajudou a compreender e implementar o conceito nos meus hábitos e na minha vida em todas as suas dimensões.

Maturidade emocional, no meu ver, é quando nós aprendemos a conhecer e aceitar as nossas emoções.

A aceitação gera transformação, enquanto a não aceitação gera conflito. Aceitar as emoções que vivo permite-me uma maior tomada de consciência – que, por sua vez, leva-me a senti-las e processá-las, o que consequentemente me ajuda a transmutá-las e viver em paz interior.

Não aceitação gera mais emoções contrativas - que, por sua vez, não me despertam a consciência de mim mesma e do mundo à minha volta e isso não me faz viver e transmutar os meus processos, coisa que não me permite evoluir e afasta-me da paz interior.

Parece muito teórico e confuso? Talvez. Por isso, o melhor é ilustrar através de exemplos e vou fazê-lo com exemplos da minha própria história.

Devido aos meus acentuados problemas de coluna que constituem quase uma segunda deficiência a par com a cegueira, recebi aos 10 anos a notícia de que não poderia, tal como sonhava, fazer uma carreira como ballerina ou até mesmo dançar balé.

Mais ou menos pela mesma idade, queria matricular-me como aluna de violino na escola de música, mas o meu pai não permitiu, alegando que eu já tinha muitas atividades – pois, para além da escola, estudava piano, canto e tinha aulas extracurriculares de espanhol e italiano.

Escusado será dizer que fiquei muito triste com ambas as situações.

Quais teriam sido as possíveis consequências   de não as aceitar?

Ficar com raiva, culpar a professora e os meus pais pela minha decepção, desenvolver sentimentos de inveja e raiva por todos os violinistas e praticantes de balé ou recusar-me a aceitar e forçar ambas as carreiras levar-me-ia, muito provávelmente a um nível de desgaste e difícilmente teria sucesso em alguma das coisas que já havia abraçado.

Consequências de aceitar as emoções foram:

  • expressar a minha dor e a raiva, fazer o luto desses sonhos (sentir);
  • buscar alternativas saudáveis de movimento que fossem tão delicados como o balé e começar a praticar ioga e danças contemporâneas (pensar);
  • dedicar-me ao estudo dos idiomas e tornar-me versátil neles, assim como elevar as minhas notas escolares para conquistar uma futura profissão que me permitisse obter a liberdade financeira para fazer o que bem me apetecesse (transmutar)

Aceitar as nossas emoções permite-nos um bem essencial que consiste em sermos autênticos.

Não seremos autênticos e fiéis à nossa verdade interior se varrermos a nossa emoção para debaixo do tapete ou a anestesiarmos – pois, ao fazer isso, não damos oportunidade a nós próprios de evoluirmos. Para evoluir, eu tenho de sentir e aceitar, abraçar as minhas emoções.

Após isso, tenho dois caminhos: posso focar-me no problema ou nas soluções para o problema, a escolha será minha. E sem dúvida que a minha mente vai querer focar-se em algo, a função dela é pensar, analisar, raciocinar e criar padrões.

Então, se eu decidir focar em soluções, dou à mente um trabalho que a beneficia e beneficia o meu futuro e o meu presente: vai amiga, vamos procurar uma solução.

Ok, não podes dançar balé, mas o que podes fazer que seja bonito, te permita dançar e movimentar-te de forma saudável?

Ok, eu tenho um valente risco no meu carro e isto vai-me custar um dinheirão para que o carro possa ser arranjado, então vamos pedir orçamentos a mecânicos e, depois, buscar uma forma de ganhar dinheiro extra, uma fonte de rendimento residual - para que, no tempo indicado, possa obter o valor que preciso para arranjar o veículo.

Se o trabalho da mente é a pesquisa e a criação de padrões, o trabalho da alma é fazer aprendizado e transformá-lo.

Se eu, e isto é verídico, experienciei na infância maus-tratos, diversas formas de abuso, abandono, negligência e humilhação, vou trabalhar para poder enviar amor a essa situação e transformar-me no ser humano que dá aos outros todo o contrário: amor, cuidados, exaltação das qualidades, entrega e encontros.

Faço isso porque sou um ser iluminado? Não, faço isso porque tenho uma cada vez maior consciência de mim mesma, do mundo e das leis universais, e porque a vida me deu experiências e exemplos que me inspiraram a entender que há verdades que não são apenas frases feitas.

Gandhi dizia: sê a mudança que desejas ver. E como é que eu posso ver um mundo onde as pessoas se amam mais se eu mesma não amar mais?

As experiências que fiz e ainda faço vêm para a minha evolução e, embora cada ser humano tenha o seu próprio plano de alma, nós podemos transmitir às pessoas do nosso entorno (família, amigos, amados, clientes, colegas, ETC.) as ferramentas com que nós mesmos aprendemos e, se elas pegarem na ferramenta e a adaptarem à própria experiência, ela pode resultar.

sábado, 12 de agosto de 2023

A arte de se render

Introdução

Hoje, nesta publicação, venho partilhar contigo uma das receitas que mais me têm sido pedidas ao longo dos últimos 20 anos. Não se trata de uma receita de culinária ou de um remédio caseiro, mas sim de um segredo, ou pretenso segredo.

Muitas vezes, amigos, clientes ou outras pessoas que me conhecem e sabem algo da minha História de vida me questionam como faço para, durante a maior parte do tempo, conseguir demonstrar genuína alegria e nunca perder a fé, a confiança nas forças superiores, na vida, no que há de melhor e de mais luminoso no ser humano.
A verdade é que eu, tal como todos nós, não nasci ensinada e aquilo que eu sou hoje é resultado de muitos processos que atravessei, de muitas noites escuras da alma que vivenciei e de muito aprendizado que vai além daquilo que se aprende no contexto académico ou em cursos de desenvolvimento pessoal.

Os quatro passos da alegria  genuína

Reverse Gap

Sempre, desde criança, tive uma sede inextinguível de saber e, acima de tudo, de sabedoria. Essa sede, a par com a sede de poder cuidar de pessoas e servi-las, tem sido mitigada pela vida que me têm dado infindas oportunidades de aprendizado. Em outro post, nós já falámos que há dois tipos de aprendizagem; a que fazemos na descoberta feliz, (satori), e a que fazemos na dor, (kenzo).
Aprendi a ter e cultivar alegria pelo simples fato de ter começado a ver a vida por vários ângulos e a perceber que, quando estamos em dificuldades, há sempre algo que já nos adveio, ou que aconteceu a outras pessoas, que ainda foi mais desafiante (Reverse Gap).
Exemplo: hoje, posso não ter ainda concretizado todos os resultados que queria atingir na minha vida profissional; mas, há 15 anos atrás, estava infinitamente mais longe dos meus resultados de sonho do que estou hoje. 

E se é verdade que o país em que vivo, tal como todos os países do mundo, não é um país perfeito e tem muitas condições a precisar de serem melhoradas em diversos campos, também é verdade que há pontos do globo à nossa volta onde há desafios infinitamente maiores que os do meu país.
A técnica do "Reverse Gap" inspira-me uma enorme facilidade para aplicar o desenvolvimento e a prática diária da gratidão que eu recomendo a todos os meus clientes, familiares e amigos. E todos nós já sabemos que a vivência a partir de um lugar de gratidão aumenta substancialmente a nossa frequência vibratória e, por conseguinte, a nossa capacidade de manifestar e gerar felicidade.
Este seria então o primeiro passo do meu "Segredo" da alegria e da fé, pois a aplicação da técnica do "reverse gap" dá-me oportunidade de ver que, juntamente com todos os desafios incontáveis pelos quais passei e passo, a vida sempre proporcionou-me caminhos para sair das provações e a minha alma permitiu-se evoluir com o aprendizado que cada situação me trouxe até hoje.

Esse recurso que adquiri e estou a treinar contínuamente é como uma habilidade física que, ao preservá-la e cultivá-la, nenhuma circunstância da vida nos pode tirar.
Mas este é apenas o primeiro passo do segredo. O segundo passo é talvez o mais desafiador de aplicar nos tempos e na sociedade em que vivemos, mas cuja aplicação tem consequências altamente libertadoras.

Render-se aos processos emocionais

Trata-se da arte de render-se ao processo. E essa rendição só a podemos fazer a partir de um lugar de amor.
Render-se aos processos consiste, resumidamente, em vivê-los na plenitude, ou seja, não tentar abstrair-se da dor, do luto, da fadiga e de outras emoções contrativas que os processos da vida nos trazem. Significa também reconhecer e aceitar que não nos cabe controlar tudo e que nós cocriámos toda a realidade que nos toca atravessar.

Não estamos aqui no mundo por acaso, mas sim com um propósito, ou um conjunto de propósitos de alma, cuja descoberta nos cabe fazer para podermos vivê-los.

Assim sendo, tudo o que vivemos de desafiador e que nos causa sentimentos contrativos de medo, tristeza, raiva, angústia, ETC. vem a nós para, de acordo com o que já pudemos abordar neste blog, nos apontar os nossos poderes maiores de cura e transformação.
Espera aí, Cris, mas essa mensagem não é contraditória? Não tanto, pois rendição está longe de consistir em cruzar os braços e não entrar em ação, entregando a responsabilidade sobre a nossa vida a outros ou às circunstâncias.

Questionar-se

Aqui entra o amor, abraçar os processos com amor, reconhecer qual é a necessidade que eles têm em nos interpelar, vivenciar e libertar as emoções contrativas e, no momento em que chega o "vazio após a grande tempestade", confrontarmo-nos com três essenciais questões que requerem a nossa integral atenção:

1: O que isto me faz sentir?

A esta questão, respondemos no nosso interior, ou por escrito, ou em diálogo externo, com toda a sinceridade da nossa essência. Sentir é essencial para que as emoções sejam processadas e os sentimentos expansivos possam iniciar o seu efeito transformador.

2: O que isto me faz pensar?

Nesta abordagem, exploramos tudo o que a nossa mente, o nosso lado prático, analítico, (masculino), faz-nos pensar sobre as situações. é também o que chamamos de racionalizar, ou "pensar de cabeça fria", usar o discernimento de observador externo, o "Detetive" interior que, de forma prática, nos fará ver por fora da caixa e tirar as conclusões mentais do processo.

3. E por fim, vem a questão da alma: Qual o aprendizado que esta situação me pede?

Em termos do enquadramento do meu propósito de vida, o que é que eu retiro de aprendizado para a minha vida presente e futura? Em que é que este aprendizado feito por via do sentimento e da mente me fará melhor pessoa, mãe, pai, coach, professor(a), esposo(a), amigo(a), padre, construtor(a) civil ou qualquer que seja a minha missão de vida?

Em que é que isto fará com que eu evolua como ser espiritual que está a viver uma experiência humana?

Amar

O quarto e último passo é o mais importante de todos que já mencionei acima: o amor.
Se eu escolher viver a partir de um lugar de amor, eu me rendo aos processos com amor. Amando, amando a vida, amando as pessoas envolvidas no processo, amando o processo transformador em si, eu reconheço com facilidade o lado bom do mesmo. Eu abro o meu coração e o meu campo energético para a experiência, e aceito a dor que dela advém como alavanca para uma transformação.

Amando, reconheço as qualidades de todas as pessoas envolvidas, reconheço a sua vulnerabilidade a par com a minha e sinto um desejo genuíno de reverenciá-los e cuidar dos seres que amo. Respeito e perdoo porque sei que são vulneráveis, e reconheço que absolutamente tudo é aprendizado, nada é culpa (Deus não perdoa, ele entende).
O amor capacita-te a ver além do que se pode ver, a compreender o transcendente, e a perseverar na esperança, pois ele sabe que tudo é passageiro e tudo existe por múltiplas razões.

Conclusão

Eis as razões porque sou alegre, porque tenho fé inesgotável e porque digo sim diáriamente ao meu propósito de vida, eis porque descobri que é libertadora a arte da rendição: porque escolho todos os dias viver a partir do amor, do amor, para o amor e através do amor.

Quem renega aquilo que ama? Quem não perdoa quem ama? Quem não reconhece sempre as qualidades dos seres amados? Quem não quer passar tempo com os seres amados e neles investir energia? E quem desiste do que ama?
Eu amo-te, caro/a leitor/a, e desejo do fundo do coração que possas descobrir os benefícios da arte de render-se à vida, pois a verdade é que... a vida te ama!

sábado, 5 de agosto de 2023

O portal das infinitas possibilidades

A vida convida,
persistente e determinada...
Ela chama, repete,
palpita e nunca retrocede,
qual rio galgando caminho,
saltando barreiras,
furando os diques da repressão.
A vida convida, num sussurro constante.
E quer fazer de ti sua alvorada,
seu caminho, sua estrada...
Seu instrumento de luz.
A vida lança na tua terra sua semente,
e faz do teu espírito um portal consciente...
Usa teu corpo como matéria prima de uma alquimia que transmuta tudo em que toca.
Usa teus sentidos para espalhar o despertar nas consciências,
e os teus sonhos para colorir as galáxias.
A vida, pungente e sábia,
suave e dura,
cálida e premente,
abençoa-te, penetrando o cálice pélvico do teu templo interior,
derramando sobre ti o fogo que devasta e reconstrói...
derrubando os teus muros e fronteiras, rasgando as tuas trevas,
dissipando as tuas defesas,
para fazer de ti morada sagrada do amor sem ocaso.
Se a rejeitas, ela estende sobre ti o manto da compaixão,
não renega nem vira as costas ao teu pranto,
apenas te reflete qual lua milenar,
o caleidoscópio das tuas escolhas.
o brilho dos teus dias e a escuridão das tuas noites,
em que riste sem esgotar todos os teus risos,
e choraste sem derramar todas as tuas lágrimas.
Se a aceitas,
ela entrega-te a consciência de que não há diferenças
entre ti e o reino da abundância eterna de paz...
Pois tu és, foste e sempre serás,
o portal das possibilidades infinitas.
acolhes e mergulhas,
imerges e derramas vida...
porque toda a divisão que vês é ilusória...
finito foste...
vida abundantemente eterna serás...

sábado, 8 de julho de 2023

A importância do luto e suas 6 fases

No artigo de hoje vamos falar sobre algo que é inevitável, mas muito pouco falado, por se tratar de um assunto doloroso.
No âmbito da série de posts sobre a cura dos bloqueios e das feridas capitais da alma, atravessar o luto torna-se de importância extrema, pois as perdas são algo que nos acompanha constantemente e cada perda traz consigo um luto, seja pela perda de um ente querido por causa da sua morte (transformação da vida), seja outros lutos que também estão associados ao que podemos designar como pequenas mortes.
Vivemos em constante transformação individual e coletiva e, tal como já escrevi e tematizei por diversas vezes na podcast “Visão da alma”, a vida é evolutiva e impele-nos a uma constante transformação rumo à realização do nosso propósito de vida.
Neste caminho, deparamo-nos com inícios e finais de ciclos, com nascimentos, crescimentos, mortes e renascimentos, assim como com ganhos e perdas, pois na via terrena tudo é transitório.
Contudo, vivemos também numa sociedade bastante doente, na qual se reprime a vivência de lutos e demais processos que comprometam de alguma forma o funcionamento do sistema, a vida profissional, ETC.
Tendemos a pensar que temos de funcionar sempre, estar sempre bem-dispostos, ser sempre produtivos, e perdemos de vista o fato de que cada processo não digerido se transforma numa ferida de alma, num bloqueio energético e num processo cármico.
O processo de luto consiste em seis  fases que eu vou explicar aqui resumidamente, após definir de forma breve e sucinta o que é um luto.
No entanto, sinto que devo fechar esta introdução referindo que todas estas fases devem de fato ser vividas, reconhecidas, respeitadas e que tentar evitar alguma delas contribuirá para que um processo de luto se torne patológico, pois a nossa dimensão da alma não irá conformar-se com a aceitação de um processo do qual ela não tirou o aprendizado necessário.
  Os psicólogos falam sobre um luto patológico quando a perda não é processada dentro de um determinado espaço de tempo, o período de tempo que se segue diretamente à perda.
Na minha definição, o luto patológico consiste na necessidade da alma em fazer o seu aprendizado.
Se tentarmos esquivar-nos a uma das fases do luto, as dimensões física, mental e emocional podem até encontrar forma de lidar com isso, mas a dimensão da alma não terá feito o seu aprendizado e a sua cura.

Então, ela nos remeterá a feridas desta e de outras linhas temporais que “prolongam” o sofrimento, até que nós nos debrucemos sobre o que tem de ser sanado e aprendido, nem que para isso tenhamos que passar por patologias.
Podemos evitar isso? Sim, sem dúvida que podemos, atendendo as necessidades das nossas diversas dimensões e, neste caso concreto, atravessando, aceitando, honrando as fases do luto que culmina com a última fase que não consta na maioria dos livros de psicologia: a alquimização.

O que é o luto?

O luto é algo inerente e intrínseco a qualquer ser humano que ocorre quando um vínculo afetivo é rompido de forma abrupta e não compreendida.
Geralmente está associado à perda de uma pessoa querida para a morte, mas também ocorre quando um ciclo termina, podendo ser o término de uma relação amorosa ou de uma amizade, a perda de um emprego, o fim de uma fase da vida (Vida de estudante, vida de solteiro, ETC.).
 Também ocorrem lutos associados à perda de animais ou, até mesmo, de objetos com os quais temos um vínculo afetivo (lembranças positivas associadas).
Esta ruptura dá início a uma etapa emocional de cinco fases, de acordo com o retratado no livro “A morte e o morrer”  da psiquiatra Elisabeth Kubler-Ross. Esta obra escrita há aproximadamente 50 anos continua a ser uma referência para psicólogos, psiquiatras e terapeutas que trabalham o luto.
A estas cinco fases, eu agrego uma sexta fase que, na verdade, será como a junção de todas as anteriores e a iniciação de um novo processo contínuo evolutivo da alma, a transmutação das mesmas para que algo de muito positivo e evolutivo possa germinar: a alquimização do luto, transformando-o em puro amor.
As seis  fases são as seguintes: negação, revolta, negociação, depressão,   aceitação e alquimização.

As 6 fases do luto

1. Negação

é a fase logo no momento em que a perda ocorre. Rejeitamos o fato, dizemos a nós mesmos que não passa de um pesadelo ou de uma ilusão de ótica, que iremos acordar e que nada disto aconteceu realmente. É o momento em que a “ficha não caiu”. Senti isso diversas vezes e durante imenso tempo após perder o meu pai.
Apesar de ele ter partido nos meus braços e de eu ter acompanhado todo o processo da sua doença, eu tinha a sensação de que iria acordar do pesadelo e ele estaria ainda entre nós ou de que sonhava que ele apenas havia saído por uns tempos (emigrado) e que regressaria a casa em breve.
Esta negação pode durar muito tempo em casos (de morte) em que não há um corpo presente ou nos quais há um desaparecimento da pessoa em causa. É uma reação natural e instintiva de defesa para proteger-nos da dor e do impacto da perda.
“Isto não é possível de ter acontecido, não pode ser real, eu não posso sentir esta dor porque eu mesmo/a não sobreviverei ao impacto da dor da perda.”.

2. Revolta

Quando começamos a aceitar a realidade como clara e irreversível, quando a “ficha cai”, surgem frequentemente outras emoções: as de raiva e revolta. “Por que isto aconteceu? Por que com essa pessoa? Por que comigo? Por que conosco?”.
Revolta do que foi ou do que não foi feito, do que poderia ter sido, do que nós mesmos poderíamos ter feito para evitar, do que o outro poderia ter feito para evitar... Vemos o ocorrido como injusto, como uma afronta pessoal da vida ou da pessoa, de Deus, das circunstâncias, do destino.
As emoções podem variar de acordo com o caráter e com o momento em que estamos... Podemos sentir raiva ou culpa. Raiva... (“Porra, por que me fizeste isso?!”) Ou culpa também (“eu deveria ter feito isto, não deveria ter feito aquilo”).
De acordo com a personalidade, podem ocorrer momentos de desconexão da realidade (para tentar compreender a angústia sentida) ou, ainda, de profunda  autodepreciação e até de autodestruição.

3. Negociação ou barganha

É quando assimilamos a realidade do luto e, após raiva, revolta e angústia, tentamos reaver o perdido ou recuperar algo que nos ligue ao que perdemos.
É como se a alma tentasse negociar com a vida: “não... não me faças esta perda, vida... Eu irei mudar, tomar uma atitude, fazer o que não fiz antes e, em troca, tu dás-me de volta aquilo que me tiraste".
No caso de morte, tende-se a fazer tentativas de  pedir a entidades superiores que tragam a pessoa de volta de alguma forma (chamar a alma da pessoa, práticas de conexão com os mortos, ETC.).
No caso de o luto ser o do fim de um relacionamento, tende-se a fazer tudo para resgatar a relação: falar com a parceira ou com o parceiro e “negociar” a reversão da perda, procurando mudar atitudes; buscar auxílio de pessoas próximas ao(à) parceiro(a); pedir ajudas profissionais que antes teriam recusado (terapia de casal, por exemplo).
Em ambos os exemplos mencionados, a negociação está em prometer-se coisas em troca do resgate daquilo que se perdeu.

4. Depressão

Se o luto fosse uma escada, o patamar da depressão seria o mais baixo da escadaria. É a fase em que a tristeza e a dor tomam seu lugar após a assimilação e em que a dor é vivida e revivida por meio de lembranças, objetos e atitudes.
Encaramos o vazio provocado pela perda, rendemo-nos à solidão e à saudade desencadeada  pela mesma e, com aquela dor de que as anteriores fases nos tentavam proteger, encaramos que a perda não é reversível.
Pode acontecer, durante esta fase, de afastarmo-nos de pessoas queridas ou de atividades que praticávamos antes e podem surgir      “sintomas” como falta de apetite e perturbações do sono, e o vazio da perda se enche de lágrimas, sejam elas internas ou externas.
A ajuda profissional pode ser bem-vinda, dependendo da proporção da perda ou do histórico da pessoa enlutada.
Os profissionais (psicólogos, psiquiatras, terapeutas holísticos, coaches ou, até mesmo, orientadores espirituais) podem ser um apoio e um auxílio importantes na convivência com a dor e com o vazio proporcionado pela perda, assim como o apoio de amigos e familiares empatas, gentis e próximos.

5. Aceitação

Também conhecida como superação, é o momento em que começamos a conviver com a perda de um modo pacífico, rendendo-nos ao fato de que vamos continuar a nossa vida apesar da perda.
 quando a dor começa a cicatrizar, habituamo-nos a construir a vida sem essa situação ou sem essa pessoa que perdemos e conseguimo-nos abrir ao fluxo da vida, retomando atividades prazerosas ou buscando novas atividades que nos deem níveis de crescimento; é quando podemos reaver ou conquistar paz de espírito e abrir-nos para novos inícios de ciclos.
Cris, mas todos vivem o luto exatamente da mesma maneira? Não, e não há nada de errado com isso. Alguns choram muito, outros tendem a chorar muito mais por dentro. Algumas pessoas revoltam-se logo no início, outras tendem a permanecer mais tempo na fase da negação ou, ainda, outras parecem nunca conseguir aquietar-se.
Somos todos diferentes na forma como processamos emoções,  também o somos no modo de fazer luto. As fases referidas nesta ordem cronológica podem por vezes entrar noutra ordem e vai haver momentos de recuo e avanço entre uma e outra fase.
O importante é que nos permitamos viver todas as fases com o respeito e com o tempo que elas nos tomam, que pode ser de dias, semanas ou meses. Algumas pessoas conseguem fazer um luto sem apoio profissional, outras não. E tudo está certo.
O que é verdadeiramente relevante é que  a pessoa enlutada e   as pessoas que a acompanhem vivam o luto com respeito, evitando a positividade tóxica (“sai dessa... Tens que ficar feliz”).

6. E o que vem a ser a alquimização?

É aí que entra a transmutação de tudo que se viveu dentro do luto para que possamos transformar as cinzas da perda na terra fértil do amor. Na natureza, tudo se transforma; na vida, nós somos fogo no qual o amor universal arde incessantemente, no qual se queimam e consomem-se todas as energias e emoções negativas.

Para que o medo se transforme em amor, a culpa se transforme em aceitação e sabedoria, a rejeição se transforme em recuperação do poder pessoal, o abandono se torne em compaixão amorosa e caridosa, a repressão se faça a expressão da verdade interna mais elevada, a dúvida se torne em intuição e o apego se transforme numa nova identidade conectada com a centelha divina em cada um de nós.
Sim, um luto, assim como toda experiência dolorosa, pode ser transmutado em situações positivas de mais incondicional amor, gratidão, sabedoria e crescimento interno que nos permite conhecer melhor os seres vivos e amá-los mais na sua essência, com todas as suas qualidades e imperfeições, luzes e sombras.
Cada experiência de morte pode levar-te a uma maior consciência da plenitude e da beleza sagrada da vida e cada perda nos pode levar a maiores conquistas de tudo que é essencial: paz, amor, serviço, empatia, compaixão, equanimidade e felicidade.
No próximo artigo, falaremos sobre os pilares da felicidade; mas, se toda esta alusão à alquimização te parece muito teórica... Nada como entrares em contato com a visão da alma, onde, no âmbito do contexto de práticas diárias e palpáveis, podemos descobrir como podes transmutar cada experiência da tua vida numa alavanca de felicidade.

Se eu não te amasse

Se não te amasse tanto, tão perdidamente, tão infinitamente, Se não soubesse quanto te amar me expande, Não saberia como amar-me, Não ...