sábado, 25 de março de 2023

Quatro dicas eficazes para prevenir e controlar ansiedade e depressão

Tem sido um tema exaustivamente discutido e debatido o combate e a prevenção de depressão e quadros de ansiedade.

Especialmente durante o período da pandemia do Covid-19, face à adaptação a algo que até então era desconhecido, a prevenção de depressão foi discutida e analisada sob todos os ângulos da ciência, pois não é novidade para a grande maioria de nós que, nos EUA e na Europa, se tem usado e abusado de fármacos para controlar a ansiedade e combater a depressão.

Também não é novo que muitos antidepressivos, para além de criarem habituação, podem causar outras alterações hormonais e físicas.

O objetivo deste artigo não é analisar ou até mesmo demonizar o uso de fármacos, embora sejam, no final desta análise, partilhados alguns artigos para reflexão sobre essa questão.

O meu objetivo, como antiga dependente de antidepressivos e atual coach de vida e de espiritualidade, é dar-te algumas dicas sobre alternativas para combateres e controlares ansiedade e depressão de uma forma eficaz, que não têm quaisquer efeitos secundários prejudiciais, não afetam negativamente o teu desempenho das tarefas diárias, te permitem ter menos custos com farmacêuticos e podem ser utilizadas sem quaisquer restrições de idade.

Escusado será dizer que cada pessoa deve avaliar, de forma objetiva e honesta, o seu estado de ansiedade e, caso precisar, recorrer sempre a ajuda profissional de psicólogos, psiquiatras ou outros médicos, caso sinta que isso é necessário.

Tendo entanto em conta que tenho alguma experiência com as duas vertentes, métodos fármacos e não-fármacos, aconselho que sempre experimentem primeiro a segunda alternativa e, só em último recurso, se decidam a abrir-se à primeira.

Os passos dos quais falarei em seguida vêm de fontes relacionadas com a nutrição, ensinamentos espirituais dos vedas e dos livros de alquimia com uso de plantas, e da atual neurociência, que reconhece múltiplos métodos antigos como eficazes por influenciarem o nosso cérebro de forma benéfica, aproveitando a dimensão enorme da neuroplasticidade e o conhecimento de como podemos estimular, de modo natural, as substâncias que estão contidas na medicação ansiolítica e antidepressiva.

Ainda hoje eu pratico e aplico diariamente, de modo consistente, estas dicas e comprovo nelas uma para níveis cada vez mais elevados de bem-estar, saúde física, saúde emocional, mental, espiritual e energética que me fazem evoluir e, obviamente, querer partilhar com meus leitores e clientes nas consultas pessoais.

Passo 1: conecta-te com a natureza

jardim
Pixabay

A primeira dica tem a ver com algo que poderemos denominar como regresso às origens.

Nós, seres humanos, somos parte integrante da natureza. A nossa evolução avançou drasticamente ao longo dos séculos; mas, apesar de toda a urbanização e de toda a tecnologia, nós continuamos a responder a estímulos ancestrais da natureza, pois mora em nós o instinto animal e, quer a mente, quer o ego, gostam muito de coisas que lhe são familiares.

Fomos criados para continuar a ter algumas conexões vitais com a natureza, sem as quais nós, comprovadamente, sofremos danos. Por exemplo, é-nos reconhecidamente prejudicial a falta de luz do dia e de respeitar o nosso ritmo de dia e noite.

Quer no tempo da pré-história, quer no atual, continuamos a produzir serotonina (Hormonas da felicidade) e endorfinas (hormonas calmantes) com o movimento ao ar livre, o exercício físico, a ingestão de alguns alimentos, os hábitos de sono saudável, ETC.

Por que será que muita gente gosta de plantas num jardim ou em casa? Sim, nós continuamos a reagir com alegria e felicidade às cores das plantas... aos seus odores... Elas eram nos tempos dos primeiros seres humanos as principais fontes de alimento!

Quando estávamos no ventre da nossa mãe, antes de nascer, nós estávamos familiarizados a estar num espaço quente e confortável, com temperatura amena que nunca alterava (ou raramente), e a sentir e escutar água constantemente, e onde todas as nossas necessidades eram supridas; portanto, estávamos num estado de natural abundância.

Portanto, uma conexão com a natureza pode ser um enorme aliado para controlar e combater ansiedade e depressão. Isto pode ser feito de muitas maneiras, de acordo com as circunstâncias e locais onde vivemos, mas é sempre possível estabelecer contato com estímulos provenientes da natureza.

Por exemplo: fazer caminhadas diárias de no mínimo 15 minutos ao ar livre, de preferência num parque verde, à beira-mar, na floresta, no campo. Manter-se em contacto com a luz do dia e ar livre estimula a nossa produção natural de hormonas de bem-estar.

Procura adaptar sempre que possível o teu dia a dia ao ritmo natural de dia e noite, reduzindo ao máximo a iluminação artificial (para quem vive no hemisfério norte , onde os invernos são longos e os verões curtíssimos, o uso de iluminação solar artificial é muito recorrente; por isso, os nórdicos tendem a sofrer maciçamente de depressão durante essa fase do ano).

Outras formas de conectar com a natureza: se vives em meio rural, é mais fácil. Aí poderás fazê-lo com manter, durante as épocas de calor, as janelas abertas o mais tempo possível para ouvir e visualizar estímulos naturais, cultivar a terra, praticar exercício ao ar livre e fazer o máximo de atividades possível na natureza.

Em meios urbanos ou até mesmo durante o inverno, podemos arranjar alguns truques, tais como: ter uma ou mais plantas em casa; para quem tem possibilidades, ter um animal doméstico; ouvir, com frequência, sons da natureza em playlists ou com painel de sons naturais no computador; colocar paisagens naturais como imagens de fundo nos ecrãs; caminhadas num parque da cidade ou na praia; caso se tenha possibilidades, procurar cultivar, em casa ou num jardim urbano, alguns legumes ou ervas aromáticas (contacto com a terra); adormecer com sons aquáticos; entre outros!

Passo 2: nutrição saudável

vegetais
Divulgação / Organização Pan-Americana da Saúde

A segunda dica está, de certa forma, relacionada com a primeira. Se conectar-se com as nossas origens naturais é benéfico para evitar e controlar a ansiedade e a depressão, a nutrição tem um papel fulcral neste processo também.

Farás bem em ingerir, com regularidade, alimentos que proporcionam o funcionamento saudável do organismo e estimulam as nossas defesas naturais, quer as físicas (sistema imunológico), quer as energéticas (produção de endorfinas, serotonina e demais substâncias salutares cuja falta teremos, na hipótese extrema, de compensar com suplementos ou medicação).

Portanto, dicas básicas aqui (de uma coach, não de uma nutricionista): quando fores às compras, procura estar sempre alinhada com a roda de alimentos e garante que te avias com a variedade de nutrientes que ela nos indica. Procura que essa alimentação seja da época (legumes da época, frutas da época), e busca um equilíbrio saudável entre os diferentes nutrientes.

Se estás a sofrer de ansiedade ou tendes a que isso aconteça, assegura-te de ter à mão alimentos que te ajudem a focar em serotonina e endorfinas: bananas, coco, azeite, frutos secos, chocolate negro/cacau, mel, cafeína numa dosagem suave, maracujá, maçã, manga, gengibre, curcuma.

Na alimentação, o essencial não é propriamente evitar alimentos: é sobre comer de tudo um pouco, na medida adequada (salvo em situações concretas de saúde específica que têm de ser adaptadas individualmente).

A verdade é que para tudo existem diversas alternativas e, se existem, porventura, casos específicos em que algum alimento dos mencionados aqui não pode ser ingerido, pode-se sempre estudar alternativas que atinjam o mesmo fim.

O fulcral aqui a ter em conta será: a alimentação pode, sim, ser usada como um aliado para acalmar, desde que não se abuse dos recursos imediatos que prometem melhoramento, mas não são saudáveis. Exemplo: todos sabemos que açúcar é um ótimo calmante e ele está em todo o lado, até nas coisas onde nem o imaginaríamos!

Mas, para nós que procuramos a nutrição saudável e o controle eficaz da ansiedade, não será sensato ter uma alimentação saturada de açúcar: devemos administrá-lo ao organismo na medida indicada, de preferência pelas vias mais naturais possíveis (frutas), e o mesmo serve para todos os outros alimentos indicados acima e os não mencionados.

Finalizando a nutrição, é importante acrescentar a ingestão de água, que é não só essencial ao corpo, mas também ao bem-estar mental!!!

Passo 3: faz o que gostas!

desenho de crianças brincando
Divulgação / Tribuna do Norte

Esta dica já esteve presente em outros artigos e torna-se óbvia; pois, ao fazermos algo de que gostamos, estamos a gerar toda uma cadeia de emoções positivas, e estas contrariam a ansiedade e a depressão.

Todos sabemos que ter ocupação é fulcral para combater estados depressivos; mas, mais do que ocupar-se, aquilo que mais nos pode impulsionar serão ocupações de que realmente gostamos, que nos fazem sentir úteis, gratos, engajados e que nos estimulam positivamente.

Caso estejas num estado de depressão mais profundo, pode-se fazer difícil para ti perceber aquilo de que realmente gostas. Se isso for o caso, procura refletir sobre ti enquanto criança. Quando eras criança, quais eram as coisas que gostavas de ser ou fazer? Recordar-te dos teus sonhos de infância recoloca-te no estado em que estavas mais perto da conexão com a abundância total...

Podes reativar a memória de quando não vias limites em nada e tinhas curiosidade por explorar todo o mundo imaginário e real que vivenciavas.

Então, podes procurar fazer algo de que te lembras ter gostado. Inicialmente, se a tua depressão for profunda, podes não te entusiasmar com essa memória ou ideia; mas, ao experimentares a atividade, pode acontecer que te reconectes com a sensação de prazer que ela te causava na infância e a possas desenvolver de acordo com a tua atualidade.

Por exemplo: eu, quando era criança, queria ser enfermeira e cantora! cantora, porque adoro cantar e gostava de atuar, ser conhecida e elogiada pelo meu canto! Enfermeira, porque queria curar e cuidar de toda a gente!

Não me tornei cantora famosa como a Madonna, mas estudei música e canto, passei por diversos coros, fiz vários espetáculos amadores e, atualmente, sou cocriadora de um projeto de divulgação de talentos musicais, onde não apenas canto, como ajudo outros a revelar e divulgar os seus talentos.

Quanto ao cuidar de pessoas... Claro está que, não vendo, nunca pude ser enfermeira, mas procurei outras formas de cuidar de pessoas e, por isso, estou aqui agora, nesta atividade, e a partilhar contigo este artigo!

Portanto... usa os teus dons e põe-nos em prática da maneira que as circunstâncias o permitem fazer; desse modo, podes combater e prevenir profundos estados de ansiedade e depressão!

Passo 4: procura ajuda!

mãos abertas
Pixabay

Ao ler isto, deves estar a pensar algo como: “inevitavelmente vais puxar a brasa à tua sardinha, Cris”. Contudo, a busca por uma ajuda qualificada pode ser o primeiro passo para um combate autónomo à depressão e à ansiedade. Todos sabemos que, quando estamos ansiosos, precisamos de falar, desabafar, abrir-nos com alguém, buscar soluções.

Podemos e devemos fazer isso com o nosso grupo de amigos, familiares, parceiros. Mas, por vezes, é necessário algo mais, pois as pessoas que estão muito próximas de nós ou têm elas mesmas profundos problemas e não as queremos incomodar, ou, por estarem tão próximas de nós, têm tendência a não ter uma visão suficientemente neutra das coisas...

Quem nunca vivenciou a situação de ter um problema, partilhá-lo com os pais e eles ficarem ainda mais nervosos e preocupados do que nós mesmos?

Eis alguns dos benefícios que um/uma coach de vida te pode proporcionar: visão neutra, mas empática; conhecimento de causa por estudo e experiência; estímulo a uma visão multifacetada do problema; enfoque na solução; suporte multidimensional.

Para que possamos sair de um estado depressivo ou evitar entrar nele, convém-nos fazer, da nossa mente, uma aliada, quando ela por vezes tende a ser a primeira que nos reprime, impõe obstáculos e nos desmotiva.

Nesses momentos, o coach pode entrar como a voz da tua mente que estimula e te ensina técnicas práticas para que possas fazer com que a tua mente seja a tua melhor amiga, a primeira que torce pela tua evolução e a que te oferece caixinhas de soluções, ao invés de caixinhas de mais problemas.

Podes, agora, pensar algo como: Cris, ok. Mas tu desaconselhas a procura de um especialista de saúde? De maneira nenhuma. A psicoterapia pode ser um dos recursos-chave na cura e no controle de ansiedade e oferece uma multiplicidade de abordagens das quais podemos tirar proveito.

Se sentes como adequado, busca aconselhamento com um médico de confiança, um psicoterapeuta ou até mesmo um psiquiatra, pois existem casos em que o uso de medicação pode ser necessário a uma vida com mais qualidade.

E obviamente que só há benefício em usar mais de um recurso, e a eficácia por vezes está em combinar diferentes recursos e formas de ajuda para viver uma vida mais tranquila, mais feliz e na qual possamos desenvolver recursos internos para fazer face à adversidade.

Podes ler mais em:

sábado, 18 de março de 2023

Os 8 passos para perdoar

Hoje venho falar de um tema tão delicado quanto importante e não apenas para os outros ou para uma convivência sã em sociedade. Sim, porque perdoar é um verbo muito usado, quer no contexto religioso e espiritual de qualquer religião ou espiritualidade, quer no âmbito da gestão de conflitos.

Num congresso ao qual assisti em 2018, um orador incrível teve uma frase que me impactou profundamente e que, por isso, partilho contigo neste espaço.

"Seria muito mais fácil gerir qualquer conflito se cada interveniente buscasse em primeiro lugar não acusar o outro interveniente, mas assumisse a sua, e apenas a sua, parte de responsabilidade no conflito, e em seguida perdoasse ambas as partes.".

Porém, não é apenas no âmbito da sociedade e da gestão de conflitos que o perdão tem uma importância imensa como, na verdade, a primeira pessoa a beneficiar do perdão é a pessoa que perdoa, e não a que é perdoada.

E, ao perdoarmo-nos a nós mesmos por falhas cometidas no nosso passado ou presente, estamos a permitir-nos evoluir e também gozar de uma saúde mental, física, emocional, espiritual e energética!

O que nos diz a ciência?

cérebro
Pixabay
Falemos do nosso cérebro. Ele, como todos sabemos, é um bichinho muito complexo com várias secções e camadas, que produz ondas, e essas ondas são responsáveis pelo que sentimos e pelas funcionalidades do nosso organismo, e não só.

Não sou neurologista, mas ao longo deste meu artigo compartilho algumas fontes onde poderás beber e verificar de onde me vêm as afirmações que faço, pois faço questão de partilhar com os meus clientes e amigos as fontes de estudo e formação onde me baseio para servi-los com o meu trabalho!

O que nos interessa aqui é que, recentemente, nos EUA, foram realizados alguns estudos por uma equipa de cientistas que procurava descobrir o que se passa nas ondas cerebrais de monges zen (budistas) que meditam durante décadas em vida contemplativa.

Eles também investigaram que práticas as pessoas que não pertencem a essa categoria poderiam assumir para produzir esses resultados cerebrais que estimulam a saúde em todos os níveis.

Então, os participantes do estudo, após ser-lhes colocado o equipamento para medir as atividades cerebrais, foram convidados a praticar diferentes técnicas espirituais, tais como meditação em diferentes estados, oração, ioga, ETC.

A investigação revelou que uma participante se destacava, pois ela, que não tinha qualquer experiência de práticas espirituais, atingia num curto prazo de tempo movimentos cerebrais de altíssima qualidade para o bem-estar geral que a equiparavam aos mais altos níveis de beatitude.

Então, os cientistas falaram com a participante em particular e perguntaram-lhe o que ela estava a fazer para conseguir aqueles resultados. Ela afirmou que não estava a conseguir fazer praticamente nada, apenas estava a tentar perdoar o seu marido por tantas transgressões que ele cometera com ela.

Este exemplo, relatado por um participante (Vishen Lakyani, o fundador da academia "mind valley"), tal como muitos outros, demonstram que perdoar, antes de ser uma necessidade espiritual e uma virtude, é uma necessidade para o nosso cérebro e para o nosso corpo!

Está provado que quem perdoa consegue atingir mais longevidade, melhor condição e fitness, mais concentração, mais e melhor capacidade de absorção de aprendizado, mais saúde cardíaca, mais resiliência e muito mais produtividade!

Considerando tudo isto, vale ou não vale a pena perdoar?

O que precisas de saber sobre o perdão

meditação
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Antes de entrarmos nos oito passos que te vou revelar para praticar perdão diariamente, há algumas coisinhas que tens de saber sobre perdão que devemos abordar primeiro, para que fique bem esclarecido o que é, e o que não é, parte integral do que designamos como perdão.

Primeira coisa que é importante dizer: perdão é uma habilidade que se pode treinar. Tal como os músculos, nós vamos ganhando e treinando com a prática. Portanto, se achas que és uma pessoa incapaz de perdoar a ti mesmo(a) e a outras por não seres capaz de consegui-lo à primeira tentativa, estás enganado(a).

Tu és, sim, capaz de perdoar, da mesma forma que és capaz de treinar outras habilidades físicas e mentais.

Apenas precisas de continuidade e de estabelecer um hábito de "exercitar" o perdão, pois, se é certo que há coisas que podem ser relativamente simples de perdoar, há outras que requerem mais prática, especialmente quando se trata de mágoas profundas provenientes de graves abusos, crimes e, no caso do autoperdão, erros que nos prejudicaram profundamente a médio ou longo prazo.

Exemplos: investimentos com perdas, crimes que causaram grande impacto doloroso em outra pessoa, ETC.

Portanto, não te julgues incapaz de perdoar só porque já tentaste uma vez, duas vezes, três vezes e não conseguiste... não desistas, pois isto é treinável, e se tiveres sempre diante de ti a clareza dos benefícios que obténs e que os outros à tua volta obtêm ao ver-te como uma pessoa em paz consigo mesma, então chegarás lá com a prática!

Segunda coisa que tens que saber: perdoar, ou fazer a paz com algo ou alguém, não tem que significar que passes a ser amigo dessa pessoa, que tenhas de ser perdoado também por essa pessoa, ou que ela tenha de saber que a perdoaste! Na verdade, isso é completamente indiferente, nem precisas sequer voltar a falar com a pessoa, pois repito: o perdão é feito dentro de ti, e para ti.

Claro que existem situações e casos em que será bom para ambas as partes o perdão ser partilhado abertamente! Mas imagina que, por exemplo, tu sofreste violência ou outros comportamentos abusivos por parte de um diretor de escola que já não vês há mais de vinte anos. Então não há qualquer necessidade que o procures, que fales com ele.

Podes continuar sem qualquer contato com essa pessoa, ela não precisa de saber da tua decisão de perdoá-la. O perdão em alguns casos é um processo que acontece dentro, ou seja, de ti para contigo, no teu interior. Outro exemplo de um perdão totalmente dentro é quando te perdoas a ti mesmo, ou se fazes as es  pazes com alguém que já faleceu.

Portanto, se achas que perdoar significa que após fazer as pazes te tenhas que tornar o amigo do peito da pessoa, fica tranquilo, não se trata disso. Trata-se e tu próprio(a) libertares essa situação, a perdoares dentro de ti para que ela deixe de constituir um fardo para a tua saúde!

O perdão, antes de ser um processo para fora, é um processo fundamental que tem de ser feito a partir de dentro!

Terceira coisinha que precisas saber: perdoar não significa isentar a pessoa perdoada das suas responsabilidades. Tu podes perdoar, sem que tires à pessoa as consequências inerentes à transgressão que ela praticou. Exemplo: foste roubado por uma pessoa que trabalhava para ti, que abusou da tua confiança ou te burlou financeiramente.

Então, tu podes e deves perdoá-la, mas o perdão não significa que não tomes as medidas necessárias de despedi-la das funções e de fazer uma queixa-crime acerca do processo que sucedeu.

Claro que o mesmo vale no autoperdão, caso tenhamos cometido alguma transgressão. Será altamente aconselhável que nos perdoemos e, em seguida, assumamos a responsabilidade, seja ela de que natureza for, da situação e enfrentemos as consequências, sejam elas jurídicas ou de outra ordem.

Perdão significa libertar a situação, pôr-se em paz com ela, conforme verás já a seguir nos oito passos, e permitir a libertação desse bloqueio para a tua evolução e melhora, mas não significa isenção de responsabilidade.

Ainda que eu empatize com alguém que cometeu uma transgressão contra mim, e a empatia faz parte dos oito passos, isso não quer dizer que eu não faça o que tem de ser feito para responsabilizar a pessoa.

Se eu, por exemplo, tenho uma colaboradora no meu trabalho que me rouba, eu posso compreender que ela o fez porque está a atravessar muitas dificuldades e que teve grandes motivos de extrema carência de algo que a levou a tomar essa atitude, mas não me obriga a mantê-la como minha colaboradora, nem a deixar de participar a situação do roubo a entidades jurídicas.

Já esclarecemos estes três pontinhos sobre o perdão, agora vamos pôr a mão na massa e dar-te os oito passos para exercitá-lo diariamente!

Estes passos vêm de um misto de prática espiritual zen com componentes da neurociência, e são parte de um programa poderoso e multidimensional ensinado pela academia "mind valley" que se chama "a meditação das seisfases".

O perdão é a terceira das seis fases, e futuramente falarei neste blog sobre as demais fases que eu não apenas abordo nas práticas com os clientes, como aplico diariamente para mim mesma!

Primeiro passo: identifica o transgressor

O primeiro passo é identificares claramente quem vais perdoar no momento. Isso é importante porque, obviamente, não é possível perdoar tudo e todos de uma vez e, tal como tudo na vida, o perdão também não é algo abstrato. Dica: para as primeiras práticas, aconselho que escolhas transgressões mais "pequenas", não desde logo as aquelas que causaram mais dor.

Assim como não começas logo por fazer a maratona quando inicias práticas de exercício físico, também se tornará mais desafiador experienciares efetivo perdão se escolheres logo aquelas pessoas ou situações que mais dano te causarem.

Portanto, identifica e escolhe uma situação concreta que irás fazer por perdoar, pode ser a outra pessoa, ou a ti próprio(a), por alguma falha que cometeste, por exemplo, enquanto eras mais jovem e inexperiente na vida. Só após teres escolhido a situação concreta, avançarás para o passo dois.

Passo dois: escolhe o espaço

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Ou seja: determina um espaço (físico ou metafórico) onde vais fazer as pazes com essa transgressão. Pode ser um espaço físico, por exemplo um quarto, uma sala acolhedora, um lugar que gostas particularmente na natureza, ou no carro, desde que te sintas confortável e acolhido nesse espaço.

Pode também ser um espaço metafórico, quando meditas e escolhes o espaço onde mentalmente vais para fazer as pazes com essa circunstância. Importante é criar o espaço e o ambiente necessários para praticar o perdão, e toma tempo para fazer essa escolha de acordo com o espaço em que te sintas melhor e mais tranquilo!

Terceiro passo: declaração da transgressão

Nesta parte, tu irás imaginar que estás com o transgressor e vais apresentar-lhe a situação que te magoou, com toda a clareza, letrinha por letrinha. Isto pode ser uma declaração que antes tenhas escrito, como se fosse uma carta, ou pode ser como que numa conversa, na qual tu apresentas perante a pessoa, ou perante ti mesmo(a), a transgressão ou a falha.

Exemplo, eu dou a declaração a um pai que me reprimia e já não está neste plano: “pai, estou muito magoada porque nunca me senti amada por ti, porque sempre me reprimiste em tudo que eu queria fazer, porque eu nunca te conseguia agradar e tu sempre me julgavas, ao invés de me demonstrares amor e paciência”. E por aí fora, descrevendo em pormenor o que te fazia ou fez doer na situação.

Quarto passo: sentir a dor da transgressão

Esta pode ser a etapa mais dura do processo, mas é importante. Enquanto apresentas a declaração da transgressão, sentirás as emoções que ela te causou: dor, raiva, frustração, medo, vergonha, ETC. Deixa que as emoções venham e, por um determinado tempo (no máximo dois minutos), permite-te sentir essas emoções.

Permite-te chorar se assim sentires, ou bater numa mesa, ou na cadeira, ou com o pé no chão... enfim, permite-te exprimir a emoção. Mas por um tempo limitado... máximo de dois minutinhos, o suficiente para senti-la nitidamente sem que ela assuma o total controle do teu sistema.

Quinto passo: verifica o que aprendeste com esse evento

É o momento em que pensas sobre o que foi que aquela falha tua ou a transgressão de outrem te ensinou. Exemplo: com esta situação, aprendi que preciso impor mais limites e interromper relacionamentos tóxicos. Ou: com esta situação, tirei o aprendizado de que preciso ponderar melhor os meus investimentos, aprendi a ser mais responsável... o que for.

Tira a lição que, a médio prazo, a transgressão te ensinou e as conclusões que tiraste para o teu presente ou futuro.

Terias feito esse aprendizado sem essa falha ou transgressão?

Sexto passo: reflete sobre o que pode ter levado o transgressor a cometer essa falha

Por exemplo: o pai opressor pode ter tido ele mesmo pais que o oprimiram e dele abusaram, e ele pode ter-se tornado opressor por achar que, desse modo, estaria a ajudar-te a enfrentar o mundo de uma forma até mesmo mais suave do que o seu próprio pai fizera com ele.

Ou: o teu empregado roubou-te 100 euros porque talvez precisasse urgentemente de dinheiro por estar profundamente endividado e não ter tido coragem de te pedir um pagamento adiantado. Ou ainda: eu cometi aqueles erros de vendas porque tinha pouquíssima experiência e, naquela altura, fiz o que sabia e achei ser a única solução certa para conseguir ganhar mais.

Ou: fiz aquele investimento porque, naquela altura, sentia que estava a ajudar alguém que precisava realmente de ajuda e eu não conhecia outra solução.

Esta etapa não é sobre justificação, é sobre a compreensão e a visão de um todo, no qual nós, no momento em que transgredimos ou sofremos transgressão, não nos conseguíamos aperceber. Uma vez que antes refletimos sobre o aprendizado, nesta etapa refletimos sobre o que pode ter levado a esta circunstância, e passamos a ver uma parte do todo, ao invés de fragmentos.

Vemos dois lados, ao invés de um, e isso expande a nossa consciência.

Sétimo passo: vê através dos olhos do transgressor

olhos
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Aqui está a empatia. Ao refletir sobre o que está, ou pode estar, na origem da falha, tornamo-nos capazes de nos pormos no lugar do transgressor, ver a situação a partir do seu ângulo de visão.

Isto torna-me empático(a): eu sinto e aceito a minha dor, mas eu consigo também aceitar o que pode ser a dor ou a carência do transgressor, ou de mim mesmo(a) quando cometi o erro que me preciso de perdoar.

Se for comigo mesmo(a), eu ponho-me no lugar de quem eu era há 10 anos, do que eu sabia ou não sabia na época, dos pensamentos e emoções que sentia quando cometi o erro. Empatizo com a minha criança, ou com aquela que eu era nessa altura, e vejo a situação sob o ângulo daquela altura, e não do ângulo onde estou atualmente.

No caso de outrem, eu vejo pelos olhos do outro a situação e sinto as emoções da pessoa, penso os pensamentos da pessoa por alguns instantes.

Exemplo: “pai, doeu-me tanto quando me repreendeste por eu não ter tido uma boa nota e me acusaste de desleixo e preguiça, como sabes, mas agora sinto que te lembraste de como tu querias estudar e os teus pais tinham que pôr-te a trabalhar para ganhar o sustento; temeste que eu desperdiçasse as minhas oportunidades, quando tu fizeste tudo para que eu as tivesse!”.

Há um provérbio que diz que pessoas feridas ferem pessoas. Portanto, ao refletirmos nesta etapa, percebemos e sentimos onde está, ou pode estar, a ferida que levou o transgressor a causar-me a ferida, ou a mim mesmo(a) a cometer a transgressão que me causou esta ferida de perdão. E essa empatia leva-me, por fim, ao passo oito.

Oitavo passo: perdoa com amor

Após ultrapassar os passos anteriores, atingimos o estado em que somos capazes de perdoar, e perdoar de uma maneira sincera e amorosa, pois atravessamos o estado da identificação, da expressão aberta por meio da declaração, da dor provocada pela ferida, do aprendizado, da compaixão, da empatia.

Atravessamos, um a um, os pilares que nos conectam com o mundo e com as elações que tiramos. Chegamos ao estado de amor próprio e de amor pelo processo que nos levou até aqui, e então seremos capazes de libertar, e perdoar o transgressor, ou a nós mesmos. Com amor, através de um abraço libertador no sentido metafórico ou, em casos de perdão partilhado exteriormente, físico.

Ficamos em condições de dizer francamente: eu perdoo-te no amor, eu liberto com amor, eu liberto-me e liberto-te desta transgressão. Para ti mesmo(a), serás capaz de te abraçares com amor e perdoares o teu erro, libertando-te dele e permitindo cicatrizar e curar a ferida provocada por ele.

Cris, consegue-se sempre chegar à última etapa? Não, nem sempre. Conforme disse acima, há situações que nos podem custar mais a perdoar que outras e, se demorar mais, se conseguirmos atravessar as etapas anteriores e não conseguirmos executar o último passo, tudo bem.

Significa que há que voltar a essa mesma situação e repetir o processo mais uma, ou talvez mais duas ou três vezes ou as que forem precisas.

Será fantástico se o conseguirmos à primeira, e por vezes até é possível, embora pensemos que não irá ser possível. Frequentemente nos surpreendemos a nós próprios, e não há que se pressionar quando isso não acontece.

Como em praticamente tudo na vida, a continuidade leva ao resultado. Só que, neste caso, a continuidade leva a uma expansão maior e maior da nossa consciência, e o que parece inicialmente um grande esforço torna-se com o tempo mais e mais fácil.

Conforme nos explica Neal Donald Walsh nos seus livros "Conversas com Deus", "O mestre não perdoa, o mestre compreende". A vida (Deus, a espiritualidade ou como quer que lhe possas chamar) não nos perdoa; ela compreende que fazemos o que fazemos no estado evolutivo em que estávamos no momento em que o fizemos. E ela dota o ser humano com capacidade de fazer exatamente o mesmo.

Somos capazes de compreender e de perdoar e libertar, e isso permitirá tudo o que referi acima no início do artigo e, além disso, permite-nos evoluir e ascender ao ponto de poder compreender oportunidades para transmutar dor em amor.

Para mais informações

 Código das Mentes Extraordinárias, livro de Vishen Lakhiani

Se eu não te amasse

Se não te amasse tanto, tão perdidamente, tão infinitamente, Se não soubesse quanto te amar me expande, Não saberia como amar-me, Não ...