Eu: - Vida, por que me interpelas tanto? Por que não me tens dado um minuto de descanso nos últimos 15 anos? Aliás, que digo eu? Não apenas nos últimos 15 anos, mas durante todo o tempo; pois, se é que consegui alguma coisa, foi tudo parido a ferros...
Vida: - Filha, se bem me lembro, és tu que pedes constantemente isso mesmo.
Eu: - Eu que peço? Explica-te melhor.
Vida: - Não és tu que pedes mais profundidade? Pedes dar e receber a 1000%, aprender mais, amar mais, encontros profundos e abundância em todas as áreas... Tu pedes e eu dou.
Eu: - Tens razão... eu peço sim e eu comprometo-me contigo. Quando tenho descanso, peço ação e, quando me dás muita ação, peço descanso... E lembro-me de que durante a minha infância te pedia incessantemente que me ensinasses a amar sem medidas... mas, bolas... não achas que exageraste na dose?
Vida: - Não me parece... Vejamos: se olhas para trás no teu percurso, apercebes-te de que não só te dei exatamente na medida do que desejavas, como também na medida do que precisavas.
Eu: - Precisava para quê?
Vida: - Para aprenderes da forma que desejavas.
Eu: - Aprender a sofrer sem medida?
Vida: - Aprenderes sobre o amor, sobre ti mesma, sobre os outros e sobre mim com a profundidade que a tua alma deseja. Não querias aprender superficialmente, querias tudo com profundidade. Não recebeste isso?
Eu: - Recebi sim... e aprendi tanto... muito mais do que imaginava que fosse possível aprender. Aprendi que temos muitas dimensões e também que, para conhecer o amor total, temos de conhecer a empatia, e que a verdadeira empatia pede que conheçamos a sombra tal como conhecemos a luz...
Mas porra, vida... alguns dos caminhos eram cilada certa... não podia ter evitado trilhá-los?
Vida: - Alguns poderias ter evitado, e sabes disso... outros foram inevitáveis e também sabes disso... mas todos eles foram necessários para fundar o que sabes hoje.
Se não conhecesses o arrependimento, não poderias distinguir o que faz sentido daquilo que não faz e, se não tivesses conhecido a dor, nunca poderias conhecer a real diferença entre dor e alegria. E pior: ignorando a existência da dor, não te tornarias empata.
Eu: - Ai, vida... eu sei disso. Sei-o com toda a minha consciência... e pergunto-me se todo o percurso até aqui me levou a algum lado.
Vida: - Levou-te aonde estás agora, seguiste o mapa do tesouro que estava gravado na tua alma, escutaste as minhas indicações e chegaste aonde estás.
Eu: - E aonde foi que eu cheguei, vida?
Vida: - Chegaste ao conhecimento das diferentes dimensões humanas e à transformação da vítima em soberana.
Sabes o que queres e o que não queres para o teu caminho, sabes amar sem medida, reconheces que é possível seres amada do mesmo modo e compreendes que recebes tudo o que vibras, pois onde está a tua energia está o teu reflexo, o teu pensamento e o teu foco.
Eu: - Tudo bem, mas aonde me vai levar ter essa consciência?
Vida: - Leva-te aonde tu quiseres ir.
Eu: - E tu dizes que eu cheguei a essa consciência... mas não chegaram todos lá?
Vida: - Cada pessoa tem conhecimentos únicos e forma única de absorvê-los, e as pessoas recebem, como bem sabes, aquilo em que focam a sua dimensão energética.
Portanto, se todos têm focos diferentes e me pedem coisas diferentes, não são todos que têm aquilo que tu me pediste e o que tu aprendeste com os percursos do teu caminho trilhado até aqui.
Eu: - Compreendo... Mas sabes, vida, estou cansada. Estou por vezes até cansada dos desejos da minha alma que me pedem coisas que por vezes sinto que extrapolam as minhas capacidades ou que caem em saco roto.
Vida: - O cansaço surge quando tentas andar ao mesmo tempo em várias direções e quando buscas clareza sobre o caminho todo. Afinal, o mais importante é conheceres clareza sobre o próximo paço... De que te adianta conheceres o fim do caminho quando ele está no início?
Eu: - Pois... É como querer saber como chegar daqui ao mosteiro dos jerônimos quando ainda nem sei como se chega daqui a Lisboa...
Vida: - Isso mesmo. Tu tens consciência. E sabes também que te cansas quando fazes coisas que vão completamente contra a tua natureza, ou seja, contra aquilo que a tua essência te diz.
Eu: - Sim, tenho o conhecimento de que tudo que não flui estagna e sei o que preciso de desbloquear para que possa haver fluxo.
Vida: - Sabes o que precisas saber.
Eu: - Há tantas coisas que não sei e tu conheces bem as minhas questões, o que tanto me atormenta...
Vida: - Dentro de ti encontras resposta a todas as questões...