Estamos a viver numa época em que o desenvolvimento humano nunca esteve tão atual, embora ainda esteja no início do seu real reconhecimento. O presente blog é a expressão das minhas experiências como ser humano e como coach, como eterna aprendiz das ciências humanas e da espiritualidade, como criadora de métodos simples e práticos para aplicar no dia a dia para adquirir mais altos níveis de bem-estar integral, como mulher portadora de deficiências físicas e como artista.
sábado, 22 de julho de 2023
sábado, 8 de julho de 2023
A importância do luto e suas 6 fases
No artigo de hoje vamos falar sobre algo que é inevitável, mas muito pouco falado, por se tratar de um assunto doloroso.
No âmbito da série de posts sobre a cura dos bloqueios e das feridas capitais da alma, atravessar o luto torna-se de importância extrema, pois as perdas são algo que nos acompanha constantemente e cada perda traz consigo um luto, seja pela perda de um ente querido por causa da sua morte (transformação da vida), seja outros lutos que também estão associados ao que podemos designar como pequenas mortes.
Vivemos em constante transformação individual e coletiva e, tal como já escrevi e tematizei por diversas vezes na podcast “Visão da alma”, a vida é evolutiva e impele-nos a uma constante transformação rumo à realização do nosso propósito de vida.
Neste caminho, deparamo-nos com inícios e finais de ciclos, com nascimentos, crescimentos, mortes e renascimentos, assim como com ganhos e perdas, pois na via terrena tudo é transitório.
Contudo, vivemos também numa sociedade bastante doente, na qual se reprime a vivência de lutos e demais processos que comprometam de alguma forma o funcionamento do sistema, a vida profissional, ETC.
Tendemos a pensar que temos de funcionar sempre, estar sempre bem-dispostos, ser sempre produtivos, e perdemos de vista o fato de que cada processo não digerido se transforma numa ferida de alma, num bloqueio energético e num processo cármico.
O processo de luto consiste em seis fases que eu vou explicar aqui resumidamente, após definir de forma breve e sucinta o que é um luto.
No entanto, sinto que devo fechar esta introdução referindo que todas estas fases devem de fato ser vividas, reconhecidas, respeitadas e que tentar evitar alguma delas contribuirá para que um processo de luto se torne patológico, pois a nossa dimensão da alma não irá conformar-se com a aceitação de um processo do qual ela não tirou o aprendizado necessário.
Os psicólogos falam sobre um luto patológico quando a perda não é processada dentro de um determinado espaço de tempo, o período de tempo que se segue diretamente à perda.
Na minha definição, o luto patológico consiste na necessidade da alma em fazer o seu aprendizado.
Se tentarmos esquivar-nos a uma das fases do luto, as dimensões física, mental e emocional podem até encontrar forma de lidar com isso, mas a dimensão da alma não terá feito o seu aprendizado e a sua cura.
Então, ela nos remeterá a feridas desta e de outras linhas temporais que “prolongam” o sofrimento, até que nós nos debrucemos sobre o que tem de ser sanado e aprendido, nem que para isso tenhamos que passar por patologias.
Podemos evitar isso? Sim, sem dúvida que podemos, atendendo as necessidades das nossas diversas dimensões e, neste caso concreto, atravessando, aceitando, honrando as fases do luto que culmina com a última fase que não consta na maioria dos livros de psicologia: a alquimização.
O que é o luto?
O luto é algo inerente e intrínseco a qualquer ser humano que ocorre quando um vínculo afetivo é rompido de forma abrupta e não compreendida.
Geralmente está associado à perda de uma pessoa querida para a morte, mas também ocorre quando um ciclo termina, podendo ser o término de uma relação amorosa ou de uma amizade, a perda de um emprego, o fim de uma fase da vida (Vida de estudante, vida de solteiro, ETC.).
Também ocorrem lutos associados à perda de animais ou, até mesmo, de objetos com os quais temos um vínculo afetivo (lembranças positivas associadas).
Esta ruptura dá início a uma etapa emocional de cinco fases, de acordo com o retratado no livro “A morte e o morrer” da psiquiatra Elisabeth Kubler-Ross. Esta obra escrita há aproximadamente 50 anos continua a ser uma referência para psicólogos, psiquiatras e terapeutas que trabalham o luto.
A estas cinco fases, eu agrego uma sexta fase que, na verdade, será como a junção de todas as anteriores e a iniciação de um novo processo contínuo evolutivo da alma, a transmutação das mesmas para que algo de muito positivo e evolutivo possa germinar: a alquimização do luto, transformando-o em puro amor.
As seis fases são as seguintes: negação, revolta, negociação, depressão, aceitação e alquimização.
As 6 fases do luto
1. Negação
é a fase logo no momento em que a perda ocorre. Rejeitamos o fato, dizemos a nós mesmos que não passa de um pesadelo ou de uma ilusão de ótica, que iremos acordar e que nada disto aconteceu realmente. É o momento em que a “ficha não caiu”. Senti isso diversas vezes e durante imenso tempo após perder o meu pai.
Apesar de ele ter partido nos meus braços e de eu ter acompanhado todo o processo da sua doença, eu tinha a sensação de que iria acordar do pesadelo e ele estaria ainda entre nós ou de que sonhava que ele apenas havia saído por uns tempos (emigrado) e que regressaria a casa em breve.
Esta negação pode durar muito tempo em casos (de morte) em que não há um corpo presente ou nos quais há um desaparecimento da pessoa em causa. É uma reação natural e instintiva de defesa para proteger-nos da dor e do impacto da perda.
“Isto não é possível de ter acontecido, não pode ser real, eu não posso sentir esta dor porque eu mesmo/a não sobreviverei ao impacto da dor da perda.”.
2. Revolta
Quando começamos a aceitar a realidade como clara e irreversível, quando a “ficha cai”, surgem frequentemente outras emoções: as de raiva e revolta. “Por que isto aconteceu? Por que com essa pessoa? Por que comigo? Por que conosco?”.
Revolta do que foi ou do que não foi feito, do que poderia ter sido, do que nós mesmos poderíamos ter feito para evitar, do que o outro poderia ter feito para evitar... Vemos o ocorrido como injusto, como uma afronta pessoal da vida ou da pessoa, de Deus, das circunstâncias, do destino.
As emoções podem variar de acordo com o caráter e com o momento em que estamos... Podemos sentir raiva ou culpa. Raiva... (“Porra, por que me fizeste isso?!”) Ou culpa também (“eu deveria ter feito isto, não deveria ter feito aquilo”).
De acordo com a personalidade, podem ocorrer momentos de desconexão da realidade (para tentar compreender a angústia sentida) ou, ainda, de profunda autodepreciação e até de autodestruição.
3. Negociação ou barganha
É quando assimilamos a realidade do luto e, após raiva, revolta e angústia, tentamos reaver o perdido ou recuperar algo que nos ligue ao que perdemos.
É como se a alma tentasse negociar com a vida: “não... não me faças esta perda, vida... Eu irei mudar, tomar uma atitude, fazer o que não fiz antes e, em troca, tu dás-me de volta aquilo que me tiraste".
No caso de morte, tende-se a fazer tentativas de pedir a entidades superiores que tragam a pessoa de volta de alguma forma (chamar a alma da pessoa, práticas de conexão com os mortos, ETC.).
No caso de o luto ser o do fim de um relacionamento, tende-se a fazer tudo para resgatar a relação: falar com a parceira ou com o parceiro e “negociar” a reversão da perda, procurando mudar atitudes; buscar auxílio de pessoas próximas ao(à) parceiro(a); pedir ajudas profissionais que antes teriam recusado (terapia de casal, por exemplo).
Em ambos os exemplos mencionados, a negociação está em prometer-se coisas em troca do resgate daquilo que se perdeu.
4. Depressão
Se o luto fosse uma escada, o patamar da depressão seria o mais baixo da escadaria. É a fase em que a tristeza e a dor tomam seu lugar após a assimilação e em que a dor é vivida e revivida por meio de lembranças, objetos e atitudes.
Encaramos o vazio provocado pela perda, rendemo-nos à solidão e à saudade desencadeada pela mesma e, com aquela dor de que as anteriores fases nos tentavam proteger, encaramos que a perda não é reversível.
Pode acontecer, durante esta fase, de afastarmo-nos de pessoas queridas ou de atividades que praticávamos antes e podem surgir “sintomas” como falta de apetite e perturbações do sono, e o vazio da perda se enche de lágrimas, sejam elas internas ou externas.
A ajuda profissional pode ser bem-vinda, dependendo da proporção da perda ou do histórico da pessoa enlutada.
Os profissionais (psicólogos, psiquiatras, terapeutas holísticos, coaches ou, até mesmo, orientadores espirituais) podem ser um apoio e um auxílio importantes na convivência com a dor e com o vazio proporcionado pela perda, assim como o apoio de amigos e familiares empatas, gentis e próximos.
5. Aceitação
Também conhecida como superação, é o momento em que começamos a conviver com a perda de um modo pacífico, rendendo-nos ao fato de que vamos continuar a nossa vida apesar da perda.
quando a dor começa a cicatrizar, habituamo-nos a construir a vida sem essa situação ou sem essa pessoa que perdemos e conseguimo-nos abrir ao fluxo da vida, retomando atividades prazerosas ou buscando novas atividades que nos deem níveis de crescimento; é quando podemos reaver ou conquistar paz de espírito e abrir-nos para novos inícios de ciclos.
Cris, mas todos vivem o luto exatamente da mesma maneira? Não, e não há nada de errado com isso. Alguns choram muito, outros tendem a chorar muito mais por dentro. Algumas pessoas revoltam-se logo no início, outras tendem a permanecer mais tempo na fase da negação ou, ainda, outras parecem nunca conseguir aquietar-se.
Somos todos diferentes na forma como processamos emoções, também o somos no modo de fazer luto. As fases referidas nesta ordem cronológica podem por vezes entrar noutra ordem e vai haver momentos de recuo e avanço entre uma e outra fase.
O importante é que nos permitamos viver todas as fases com o respeito e com o tempo que elas nos tomam, que pode ser de dias, semanas ou meses. Algumas pessoas conseguem fazer um luto sem apoio profissional, outras não. E tudo está certo.
O que é verdadeiramente relevante é que a pessoa enlutada e as pessoas que a acompanhem vivam o luto com respeito, evitando a positividade tóxica (“sai dessa... Tens que ficar feliz”).
6. E o que vem a ser a alquimização?
É aí que entra a transmutação de tudo que se viveu dentro do luto para que possamos transformar as cinzas da perda na terra fértil do amor. Na natureza, tudo se transforma; na vida, nós somos fogo no qual o amor universal arde incessantemente, no qual se queimam e consomem-se todas as energias e emoções negativas.
Para que o medo se transforme em amor, a culpa se transforme em aceitação e sabedoria, a rejeição se transforme em recuperação do poder pessoal, o abandono se torne em compaixão amorosa e caridosa, a repressão se faça a expressão da verdade interna mais elevada, a dúvida se torne em intuição e o apego se transforme numa nova identidade conectada com a centelha divina em cada um de nós.
Sim, um luto, assim como toda experiência dolorosa, pode ser transmutado em situações positivas de mais incondicional amor, gratidão, sabedoria e crescimento interno que nos permite conhecer melhor os seres vivos e amá-los mais na sua essência, com todas as suas qualidades e imperfeições, luzes e sombras.
Cada experiência de morte pode levar-te a uma maior consciência da plenitude e da beleza sagrada da vida e cada perda nos pode levar a maiores conquistas de tudo que é essencial: paz, amor, serviço, empatia, compaixão, equanimidade e felicidade.
No próximo artigo, falaremos sobre os pilares da felicidade; mas, se toda esta alusão à alquimização te parece muito teórica... Nada como entrares em contato com a visão da alma, onde, no âmbito do contexto de práticas diárias e palpáveis, podemos descobrir como podes transmutar cada experiência da tua vida numa alavanca de felicidade.
Se eu não te amasse
Se não te amasse tanto, tão perdidamente, tão infinitamente, Se não soubesse quanto te amar me expande, Não saberia como amar-me, Não ...
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Se não te amasse tanto, tão perdidamente, tão infinitamente, Se não soubesse quanto te amar me expande, Não saberia como amar-me, Não ...
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Introdução Olá, gente! Para quem gosta de ler, essa é uma adaptação do áudio publicado como podcast . Hoje, vim escrever este conteúdo para ...